26.6.05

Segurou-a pelo braço quando de um impulso:

- Vais me largar eu sei, só não sei bem quando...

- ...dizes asneiras, sempre que terminas um destes seus livros!

- Ei, não culpes os livros, é a mim que queres ofender!

- Queimaria a todos se pudesse.

- ...não podes?

- Não. Sei que mataria mais de metade de ti.

(o bairro silenciou enquanto persistia a tv noutro canto...reclamando coisa aguda)

Olhou-a, então, primeiro com susto, e com certo ardor ressentido. Tomou de expressão sofrida e, tão logo, já se fazia condescendente. Até que lhe saltaram dos olhos duas adjetivações impetuosas e finais.

Sem que usasse palavras, apenas entornou o copo de todo à garganta, perguntando-se do por que de ela não haver atribuído culpa ao uísque que ele vertia todas as noites, e fez o corpo de lado na cama onde logo dormiu; sem ler coisa alguma.

25.6.05

- sabe, eu te pego sim, por mais barato que um ônibus...


- acertados assim, estamos, certo?


- certo estamos que sim.

21.6.05

crepúsculo

Toda vez que a lua se concebe entre o sol e a terra,
os homens param pra admirar.
Algo que não é dia nem noite;
e que não é vida nem morte.

Algo que não é tédio,
por não ser humano.

19.6.05

A que lá vejo...

A que lá vejo da ponta
é ela...
pintando um sonho nas areias

Repara,
vem qual mansa, qual menina;
linda, sim, e tanto,
que o mundo todo
entre o alvoroço e o encanto,
se aperta de uma esquina só;
só pra vê-la...

...e logo ouvi-la, tão doce
brincando música,
quando decide que passa;

e nesse seu passo,
qual largasse vida
ou sugerisse morte,

ao mundo
tanto menor e tão carente dela,

concede,
que siga mesmo a girar...

nesse Sempre

que é dela,

que é só dela,

e por ela se infinda.

E dela se alimenta.

E some,

Num abraço longo que cede ao infinito

E num sopro que liberta

Até que se confunda, e se mude em vento...

5.6.05

arranha-céu

arranha os céus

arranca o céu

tira-lhe os caroços

e o come.

e digere

e dejeta

as estrelas

que são inúteis

só servem para estar

e brilhar

e valer o céu

que sem elas desafina

e desafia o homem

a inventar um novo...

que valha olhar

e olha pra não gostar o céu

mas pra inventar estética

e atenta às núvens

que logo vão

deixando o céu que desafina

e desafia o homem

a inventar (ainda) estética

até que seja o céu

só céu

branco

mais nada

e até que sejam os homens muito mais que homens

até que sejam nuvens

e sejam estrelas...

e sejam céu

sozinhos.







- tenho medo

- de que?