20.7.05



Mas em alguns raros casos as andorinhas não mudam.

Elas ficam.

Quintana,

algumas delas ficam

pra dar sentido

às coisas que não têm contorno.

17.7.05

Desviou os olhos para evitar o pior, mas era tarde, a mulher já trazia os dedos a roçarem-lhe os pelos do braço.

Era sexo o que ela queria.

Torceu a boca.

Dando beijo na testa seguido de um sorriso fraterno como estratégia final; era tarde. A mulher já lhe deitara os dedos ao queixo pedindo que fizessem um beijo com as bocas.

Cedeu cortando logo. E os 2576 dias de casamento lhe vultuaram os olhos num átimo. Pensou em fingir alguma coisa, mas já se intalava na idéia.

Inevitou-se o sexo por então.

Pela manhã, a mulher dera "Bom-dia"- entoado rouco pelo mal sexo que tivera, e já fazia entender ao marido.

Mas este não escutara "Bom-dia".

Apenas um sussurro sem som, que entendera com a alma:

"2577"

E um padre consagrando a sua desgraça no supor de um amor altruísta que aprendera com a Bíblia.

16.7.05

Deu tempo de ressentir a tristeza

enquanto se afogava naquele póro cheio de pús.

Eu sou essa infecção tediosa de mim mesmo- pensava

Logo trancando a carne entre as unhas

Como a querer extirpar-se.

13.7.05

Esbarramos um no outro por uma esquina que inventávamos entre as ruas dos nossos olhos, pois então pensei:

- Seria esta a minha alma? Espectro meu; substrato cósmico, mágico, da minha vida?

E o mundo, daí em diante, passou a dar voltas ao contrário.

8.7.05

Durvalino

Durval fora motorista de ônibus por 12 anos.
Um dia trocou a segunda marcha pela quarta e os passageiros lançaram-lhe olhares de repreensão e desamor;
polido, quis pedir perdão.

Antes que completasse 13 anos no posto, Durval trocou todas as marchas por uma sexta que não havia. Com esta, porém, acreditou que poderia voar.
Planou do viaduto Jacareí levando consigo 32 passageiros.
Havendo nenhum que vivesse, não se soube ao certo se conseguira o desejado.
Ninguém, mais que ele, sorria.
Todos eram mortos.
Durval era vítreo.