12.6.06

Dizem que é paz morrer. E que fazemo-nos menores quando mortos. Nossa carne fica amiudada: encolhido o busto, convertendo a um ponto que nos puxa para dentro... É que passamos uma vida toda a semear grandezas e expansões! Expandir e expandir e expandir... É que deixamos de olhar o centro, a densidade, o essencial! E é pela morte que expandimos no sentido inverso. E nosso corpo se encurva para dentro, e o nosso mundo se entorna para dentro, e a expansão evolve apontando o centro... Um buraco negro que nos recicla. Um Deus incognito, infinitamente denso; de gravidade infinitamente forte, que nos salva de sermos eternos. É o que construímos para nos destruir. É o que moldamos para nos lembrar, que um dia nascemos miúdos, que abrimos os olhos e que estes arderam de luz, e que puxamos o ar e queimamos pulmões,

que eramos só centro...e que continuamos só centro...que expandimos para entendê-lo...

Num segundo final a força se implica, agora sobre;
Morremos compressos, apontando o imerso
os olhos não servem.
Somos ouvidos; finalmente.

tudo deixa...

8.6.06

Acho que estou começando a entender essa de mundo:



Mundo, grosso modo, é essa possibilidade constante de se desprender dos erros, para então culpá-los por nossos males.

É fuder com todo mundo, para então chamá-los todos: "...seus fudidos!"

Enrabar alguém de maneira bruta e incrédula e então acusá-lo de ser um arrombado!

É mais ou menos isso.

Escravizar os demais durante séculos; vender-lhes a liberdade tirada; e enredar-lhes um documento grafado em letras miúdas:

"Parabéns senhor, etnicamente desqualificado, adquiriste a liberdade, da qual desacreditavas, e com ela, o estigma de conter na estupidez da sua matéria física o mal todo do mundo."

- Ora, paiseco cheio de petróleo. Destituímos a sua democracia nacionalista, apoiamos uma ditadura que nos vendesse óleo à revelia. Mas, veja bem, não sabíamos que o ditador era tão cruel. Agora, sim, agora que estamos cientes, é pela democracia que invadimos o seu país, é pelo fim do terror.

Quanto aos alvos civis mortos; quanto aos museus idos; quanto ao vapor.
Vocês já estavam mesmo fudidos. Não estavam?

3.6.06

conversando com oYuri e Bukowski:

O problema é o de que certas coisas acabam agregando uma carga simbólica muito pesada com o tempo.

Moro em um bairro judeu desde que nasci, freqüentei acampamento judaico, tenho amigos e inimigos judeus...

enfim, pra quem não é judeu eu até que sou.

Mas é incrível. Não se pode mais falar mal deles. É só eu dizer alguma coisa contra um judeu, que as pessoas me olham com aquele claro olhar conturbado de '...temos um nazista entre nós'. Nazista é o caralho! Nazista são vocês.

Sabe, não entendo como as pessoas pretendem compreender, conviver e tolerar os grupos se elas não são capazes de criticá-los de verdade. Tolerar pela virtualidade da tolerância é uma puta demagogia do inferno!

Como eu vou entender e respeitar a dor do povo judeu, suas ações, suas vitórias, sua preservação, se eu sou incapaz de criticar (sem discriminar) os pontos em que eu acho que sua comunidade por si só é discriminatória. Se eu já não posso criticar alguns pontos de suas crenças, como criticaria a qualquer outra religião, porque convenceram-me:

"coitados, já sofreram demais."

É o mesmo que dizer que agora mereçam ser esquecidos.

Pois exaltar um povo sem olhá-lo, ouvi-lo, senti-lo, é como reinventá-lo à maneira dos medíocres.

............

Caso, por vezes pior, e sem ligação com o primeiro, são os gays como tratados atualmente. Se a opção sexual de indivíduos tão presentes em sociedade gerou a necessidade de criar-se uma comunidade, no sentido puro de communitate, nós somos preconceituosos demais. Porque é claro que os gays tenham interesses em comum, mas não poder viver isto socialmente em seus diversos aspectos é um absurdo completo.

O problema é que, para muitos, tolerar e respeitar os gays é mais do que um ato cívico, é um ato de amor. Virou moda respeitar os gays. Mais do que uma conquista social elementar que já deveria ter havido muito antes, a "emancipação" dos homosexuais é uma tendência. A contemporaneidade fagocita antigas receitas e as recria em forma de tendências, passando a serem vendidas e compradas num mercado de ideários.
Desviar minimamente delas é ser obsceno, antiqüado.

É claro que parte esmagadora das características do ser humano não condizem com sua opção sexual, agora ficamos na mesma, é só tentar criticar alguma coisa sobre os gays que um monte de neo-pseudo-tolerantes-revolucionários-da-mesa-de-bar se erguem em pról ao culto de todas as minorias; que, no caso dos gays, somando com os socialmente enrustidos já não seriam minoria.

Sabe, mas que porra! Digo do que vivi com os diversos grupos sociais. Se vi pouco, se não basta, que seja; ao menos tive o cuidado de observar.

Como posso apoiar a preservação de um povo, mesmo que acima das minha próprias crenças, e colocar-me à favor das conquistas das minorias se o único lugar em que me sinto à vontade para criticá-las é sozinho, ou em meio a grupos que as discriminam?

Não sei como fazer pra respeitar os costumes judáicos se parece que só entre nazistas os poderia criticar.
De mesma forma como posso entender os gays como uma realidade presente, inerente, se só os homofóbicos me deixariam criticá-los.

Sabe, tolerar não é fazer carinho.

Enquanto a mistificação não permitir que grupos sejam criticados junto a todos os demais ficaremos nessa de fingir respeito.

Polícia, político, drogado, periferia, bandido, têm como profissão serem criticados. É tão mais difícil ver alguém entortar a cara pra quem falar mal destes.

Enquanto isolarmos as minorias do nosso campo crítico estaremos discriminando a todas.