27.6.07

Pra onde vais querido mendigo?
Que me perguntas tão solone qual é a hora.

Quais compromissos, quais aventuras...
o que te espera em cada momento?

De que adianta eu te contar de um tempo,
se o teu é feito de substância outra.

E te acompanha para onde segues a arrastar o corpo.

Ao teu pedaço privativo de asfalto,
a uma loja, um estacionamento,
um posto.

Como puderam te convencer das horas?
Se toda parte já abrigou teu nome?

Se você está em tudo o tempo todo?

Mendigo onipresente.
Mendigo Deus.
Mendigo tantos.

Se queres de fato saber,

Faltam cinco minutos pro teu poente.
E uma vida toda para eu nascer.

12.6.07

E essa vontade que eu tinha de me arremessar contra o mundo?
Até que não houvesse mais eu, nem mundo.
E essa minha revolução tão minha?

Bater a cabeça contra o rumo das coisas
Concedeu-me este sono perene dos braços.

E os joelhos dobraram-se.
As alegorias cansaram-se de significar.

Daqui pra frente porcos são porcos.
E uma parte tão boa de mim deve dormir.

As revoluções, todas elas, moram agora na minha barriga.
Nas minhas entranhas ancestrais.

No meu arquétipo guerreiro.
Nos meus soldados de chumbo.

Toda luta agora mora no meu sangue.
Toda dor nos meus nervos sãos.

A América Latina desenhada
nas nervuras das minhas mãos.

Os meus olhos viciados apontam para o óbvio.
Por isso escolho mantê-los fechados.

Meus ouvidos é que se arremessam,
incertos.

ao som sem som do universo.