27.7.08

Você foi, então, com uma firmeza que me pressionou contra o banco. E não havia saída daquilo ali. Era eu nos espaços de um carro maior do que deveria. E eu queria mesmo que fosse em Santana o nosso fim, pra eu não chegar nunca até, nem nunca de volta. Que eu gosto mesmo é do ínterim. Das restantes árvores asfaltadas. Do que se move e se pinta no segundo em que eu passo, e então não mais. Eu gosto do gosto que você tem e de não tê-lo sempre que eu quero. E de não tê-lo de maneira alguma.

Que eu me reconhecesse em você mesmo no que não se pode. E saber do seu apartamento porque é o único sem número. Porque não precisa. Você destranca a porta e não precisa. De número, nem de motivo, nem de desculpas. ‘...que eu queria uma xícara de açúcar, um pouco de café. Se puder, um cheiro num pano. Uma toalhinha que grafasse Sofia. Uma fotografia 3x4 e uma carta de papai Noel’.

E que, horas antes, o sol me tinha pregado peça de acender o rosto de cinco em cinco e me soprar vento nos entremeios. Sentindo o que mais tarde ficaria dito, de você estar diferentemente bonita em cada decorrer...
que fico sentado às vezes esperando o mundo me desdizer, e me lembro de você. E insisto aqui quieto para quando de um repente seu nome piscar no meu telefone e eu ficar feliz demais, feito criança, e ter vontade de pedir que ligue de novo, e de novo. Até meu coração miúdo se cansar da alegria boba que você me dá.

Por quando, eu faço aqui o que me deu de passar pelos olhos e ficar. Não é muita coisa, embora seja: Coisa demais pro pouco que é. Pouco pro tanto, se me entende. Tanto que eu nem achava que pudesse. E foi. Grande e deliberado o que foi...
E sinto saudades. Essa coisa aí de que você fala e eu não sei bem como, mas sinto. E queria que você fosse a minha eterna saudade. Despreocupada e intensa. Em me alertar que sente uma falta de ar que não sabe por que, e eu te amparar dizendo besteiras sem sentido e outras tão cheias de sentidos que te fizessem esquecer...

Porque eu não me entreguei, embora tenha sido somente seu por nossos dias. Tampouco ousou entregar. Porque somos dois medrosos cheios de sonhos. E não há ainda chão para deitá-los todos e fazer com que sejam. Mas gosto de te dar um remédio e dizer que estou cuidando de você pra logo entender que estou mesmo é cuidando de mim. Saber que me importar com você me enche de sentido que antes não havia. Que faltam estrelas demais nesse céu e que teríamos de inventá-las juntos.

Não digo de paixão; isso porque não quero. E a birra é a única força que tenho contra nós dois. Tampouco digo de você: uma noite fria e nublada da minha vida; isso porque não conseguiria. E a impossibilidade, enfim, é esse enorme abismo que o universo tem sob mim.

E se eu te disser no nosso primeiro quando, que você é uma mulher com quem eu me casaria, não pense que é pra te jogar lá pra frente no tempo, não. É só pra tentar dizer que você não poderia ser só mais uma mulher na minha vida. Mesmo que eu quisesse que fosse, a impossibilidade me esmagaria contra os seus olhos.

Uma menina que seria a melhor dançarina de tango do mundo se fosse uma dançarina de tango.

Que seria minha se fosse minha.
E que eu seria seu, se fosse seu.

Para que fôssemos.



Em que universo seríamos concebidos juntos?

4 Comments:

Blogger Vitor Lobato said...

não queria ser o primeiro a comentar, nem entendi porque ninguém ousou comentar.

gostei muito desses últimos todos que li por aqui.

saudades.

4:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

ai, desses que a gente lê num calafrio permanente. no duro.

"Eu gosto do gosto que você tem e de não tê-lo sempre que eu quero." é lindíssimo.

7:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

ADORO esse texto.

1:28 PM  
Anonymous Bruno said...

Seus textos me fazem entender um pouco mais sobre mim.

7:09 PM  

Postar um comentário

<< Home