Às vezes me olho no espelho e quero advinhar o que me espera. Imagino em que estrutura se mudará meu rosto. Em qual densidade irão meus olhos se conformar. Serão mais duros do que hoje? Serão mais sábios? No que vão crer? Tento estimar meus detalhes no devir das décadas e minha barba vai ser sempre pouca. Vou ganhar aspereza, vou ganhar peso. O mundo vai ganhar peso em mim. Sigo avançando as datas até intuir o momento da minha morte e eu estou com bastante dor e muito cansado. O próprio cansaço tornou-se dor também. Não sei por que, mas, quando penso o momento da morte, vejo um cavalo que galopa impetuoso e profundo. Escuto suas patas advinhando o solo e sinto seu corpo vertendo distância. Daí, na possibilidade de um riacho, o cavalo que parecia poder com tudo, e que parecia jamais parar, de repente refuga e não salta o riozinho. Fico nessa idéia profana de que a morte é um refugo e só. De que ela, embora certa, proceda no instante exato em que refugamos diante da vida, simplesmente porque não chegávamos em lugar algum enquanto corríamos. Diante desse riacho, tranqüílo e fresco, paramos, e a possibilidade de atravessá-lo se perde. Chegamos, então? Há 30 anos teríamos saltado e seguido. Quando a idéia some, e a consciência quase volta inteira. Me vejo aos 20, e é como se mirasse o rosto de um morto.
12.9.07
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6 Comments:
o meu é preto
e a crina dele de vez enquando bate no meu rosto
Eu tenho medo desses pensamentos. E quando eles v�m eu deito e durmo at� que eles desitam de tentar.
Aliás, às vezes te admiro pela coragem de encarar tais pensamentos. Às vezes apenas desejo que você também pudesse dormir até que eles passassem.
Tá. Só não precisa correr...
ciclos... ciclos.
quem é gi?
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