10.1.08

Caminhávamos pelo Bairro Alto na surpresa de uma Vila Madalena muito mais antiga. Mal podíamos distingüír entre as ladeiras de pedra, uma vez que as casinhas geminadas pareciam pendurar as mesmas roupas nos diversos varais. Além do mais, havia um boteco a cada 15 passos, todos com imperial a 1 euro. As ruas estreitas recebiam os mais diversos tipos humanos. Estudantes locais, gringos (no caso nós), mendigos amigos, mendigos chapados, falsos mendigos que, muitas vezes, flagrávamos traficantes. Éramos guiados por uma nativa que, não bastasse a intimidade com as esquinas, tinha também a sua fama entre os gajos. Complicava ainda mais a situação, visto que a cada 15 passos tomávamos um chopp a 1 euro e a Bruna sempre cumprimentava um novo rapaz. Se nos perdêssemos da moça, era fim. As únicas referências que tínhamos funcionavam agora como um enorme déjà vu que tendia ao infinito. Não poderíamos nunca nos referir a um lugar em que bebêramos a 1 euro, ou onde houvéssemos encontrado um amigo da portuguesa. Toda parte era uma parte reincidida. "Parece, Bruna, então diz, é fácil arranjar droga por aqui?" No que a ironia desce a ladeira em nossa frente trazida por duas púpilas já tornadas rodas e o que sobrara de um septo antigo: "Tu cheiras? Sim, tu cheiras?" No que coçava e esfregava o nariz antigo na camiseta como que a encenar a anti-propaganda do produto que nos pretendia vender. "Não rapaz, essa não é bem a nossa". Com medo do que poderia sair daquele nariz que já parecia pulsar de inquietação induzida. Durou a negociação o que deveria. "Tá fixe!" Pontuou o nariz, em querer dizer na gíria lusa algo como "Ta firmeza!". E seguiu pelo caminho previsto como se procurasse um septo.