18.1.08

"Você não faz lá muito sentido". Imaginei que me dissesse o sol português. Naquele fim de tarde a saudade me batera com uma precisão insuportável. Olhava a Nana e a Emily que brincavam com a espuma marinha colhendo dela com as mãos em concha. Em seguida, arremessavam o conteúdo para o céu que retornava apenas em parte. A espuma se engraçando do sol já queria dizer que tudo era mesmo inconsistente e que, ou se aceitava a idéia, ou a idéia é que se impunha sozinha. Nessa altura, Nana já sapateava na margem espelhada do mar e sua imagem sapateava do outro lado, pé com pé, sola com sola. Nana sabia dançar com o mar porque era muito nova. Ela e ele ainda eram uma mesma coisa. Sem estranhamento, se aceitavam. Já Emily com a maré pretendia uma distância, uma recusa, hesitação de quem esquecera ter sua parcela de sal. Daniel apenas caminhava aquela areia no seu silêncio de rotina, como se desafiasse o mar a levá-lo dali, enquanto o mesmo o convidasse a entrar. A calma que transmitia era de quem nunca havia perdido alguém para a eternidade. Eu respeitava aquele todo amorfo porque sabia que ao oceano apenas se pode pedir, e que não há como retirar com os braços o que está imerso no passado. Esperei porque sentia que a dança da mais nova acalmava as águas rebuliçosas e que, com o tempo, honestamente passáramos a trocar nossa perplexidade pela beleza testemunhada. Esperei que viesse a quietude até que o sol se alaranjasse e as meninas deixassem a espuma descansar. E quando achei que era o momento, olhei fundo nos olhos da imensidão e pedi minha Sofia de volta. Esperei os instantes em que as ondas serenadas pareciam ponderar e, quando o sol e a espuma trocaram suas ironias por um ar desolado de pena, eu resolvi voltar. Com os restos solares me amornando as costas e com a espuma me afofando os pés. Ciente de que estar sozinho é esperar. Certo de que, como eu, o infinito de sal havia se apaixonado.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

guti, guti

achei mais fofinho que triste...

não que não seja triste

e não que seja só fofinho

mas é tão fofinho

8:05 AM  
Blogger Sheyla said...

sereno...muito bonito.

...a espera, depois de contorcida, se faz calma - e silenciosa.

carinho daqui.

10:10 AM  
Anonymous Anônimo said...

"estar sozinho é esperar" - puxa.

3:44 PM  
Blogger Yane Santiago said...

Já pensou se a espera fosse invenção?

7:49 AM  

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