3.6.06

conversando com oYuri e Bukowski:

O problema é o de que certas coisas acabam agregando uma carga simbólica muito pesada com o tempo.

Moro em um bairro judeu desde que nasci, freqüentei acampamento judaico, tenho amigos e inimigos judeus...

enfim, pra quem não é judeu eu até que sou.

Mas é incrível. Não se pode mais falar mal deles. É só eu dizer alguma coisa contra um judeu, que as pessoas me olham com aquele claro olhar conturbado de '...temos um nazista entre nós'. Nazista é o caralho! Nazista são vocês.

Sabe, não entendo como as pessoas pretendem compreender, conviver e tolerar os grupos se elas não são capazes de criticá-los de verdade. Tolerar pela virtualidade da tolerância é uma puta demagogia do inferno!

Como eu vou entender e respeitar a dor do povo judeu, suas ações, suas vitórias, sua preservação, se eu sou incapaz de criticar (sem discriminar) os pontos em que eu acho que sua comunidade por si só é discriminatória. Se eu já não posso criticar alguns pontos de suas crenças, como criticaria a qualquer outra religião, porque convenceram-me:

"coitados, já sofreram demais."

É o mesmo que dizer que agora mereçam ser esquecidos.

Pois exaltar um povo sem olhá-lo, ouvi-lo, senti-lo, é como reinventá-lo à maneira dos medíocres.

............

Caso, por vezes pior, e sem ligação com o primeiro, são os gays como tratados atualmente. Se a opção sexual de indivíduos tão presentes em sociedade gerou a necessidade de criar-se uma comunidade, no sentido puro de communitate, nós somos preconceituosos demais. Porque é claro que os gays tenham interesses em comum, mas não poder viver isto socialmente em seus diversos aspectos é um absurdo completo.

O problema é que, para muitos, tolerar e respeitar os gays é mais do que um ato cívico, é um ato de amor. Virou moda respeitar os gays. Mais do que uma conquista social elementar que já deveria ter havido muito antes, a "emancipação" dos homosexuais é uma tendência. A contemporaneidade fagocita antigas receitas e as recria em forma de tendências, passando a serem vendidas e compradas num mercado de ideários.
Desviar minimamente delas é ser obsceno, antiqüado.

É claro que parte esmagadora das características do ser humano não condizem com sua opção sexual, agora ficamos na mesma, é só tentar criticar alguma coisa sobre os gays que um monte de neo-pseudo-tolerantes-revolucionários-da-mesa-de-bar se erguem em pról ao culto de todas as minorias; que, no caso dos gays, somando com os socialmente enrustidos já não seriam minoria.

Sabe, mas que porra! Digo do que vivi com os diversos grupos sociais. Se vi pouco, se não basta, que seja; ao menos tive o cuidado de observar.

Como posso apoiar a preservação de um povo, mesmo que acima das minha próprias crenças, e colocar-me à favor das conquistas das minorias se o único lugar em que me sinto à vontade para criticá-las é sozinho, ou em meio a grupos que as discriminam?

Não sei como fazer pra respeitar os costumes judáicos se parece que só entre nazistas os poderia criticar.
De mesma forma como posso entender os gays como uma realidade presente, inerente, se só os homofóbicos me deixariam criticá-los.

Sabe, tolerar não é fazer carinho.

Enquanto a mistificação não permitir que grupos sejam criticados junto a todos os demais ficaremos nessa de fingir respeito.

Polícia, político, drogado, periferia, bandido, têm como profissão serem criticados. É tão mais difícil ver alguém entortar a cara pra quem falar mal destes.

Enquanto isolarmos as minorias do nosso campo crítico estaremos discriminando a todas.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Revolta no jeito Nícolas de ser.
é um saco msm viver no limbo do desentendimento, se passar por reaça num grupo ou ter que se juntar temporariamente à outro com o qual nem concorda.
Eu pareço que não, mas to sempre por aqui.
Saudades! vc podia aparecer.

11:19 AM  
Anonymous Anônimo said...

delícia de crítica!

concordo bastante...!

5:37 PM  

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