10.1.09

09/01/09 Sonho

Eu estava em um restaurante sozinho. E você estava sozinha também, em uma mesa a alguns metros oníricos de mim. Oníricos, vale dizer, porque distância e tempo não seguem uma lógica clara em sonho algum. Digo isso porque quando olhava para você, estávamos tão próximos que era como se eu respirasse integralmente o mesmo ar que você expelia. Já quando desviava o olhar, havia aproximadamente uns 6 metros oníricos entre nós.

Como num filme antigo, você estava linda e de vestido vermelho. Eu vestia um colete cinza, uma camisa branca e uma calça de linho preta. Atordoado com sua presença, chamava o garçom e oferecia a você uma bebida. Instantaneamente, ele lha servia em meu nome. Você sorria, erguia o copo agradecida e provava antes de devolvê-lo à mesa. Até aí tudo bem. Eu e você metidos num filme dos anos 50.

Mas, então, vejo você falando com o garçom e, dessa vez, ele me oferece uma bebida por sua conta. "Um uísque escocês", salienta o bom rapaz que mo serve. Acho aquilo muito estranho, afinal eu sou um personagem dos anos 50, isso não acontece nos anos 50, mas aceito, ergo o copo em gratidão, tomo um gole e tem o mesmo gosto do uísque que me acompanhou neste ano novo.

Decido tentar descobrir até onde vai aquilo. Seleciono meu prato preferido do cardápio e peço que o garçom lho sirva. Em 10 minutos oníricos você já degusta um prato que levaria 30 minutos reais para ser preparado. Muito satisfeita com a escolha, ordena um risotto de lagostim para meu proveito. Era, devo dizer, a melhor refeição que já havia feito, muito provavelmente também porque foi em um sonho.

Seguimos incansáveis. Pagando-nos um ao outro as bebidas e os pratos todos. Pedimos pequenas porções de diversas sobremesas. Lícores. Cigarros importados. Você me escolhe um café africano, eu decido por um chá indiano disfarçado de inglês. E, então, a coisa fica mágica. O rapaz me entrega um bilhete dobrado ao meio. Abro, e nele está escrito apenas: músico. Olho para o lado e vejo que meu instrumento está à vista sobre a cadeira ao lado. Acho graça, fico entusiasmado. Você não tem nada que denuncie sobre você, mas como o sonho é meu, e eu já sei o que você é, resolvo roubar. O garçom lhe entrega um bilhete escrito: atriz. Você fica impressionada, claro, você não sabe que eu to roubando.

Só que você começa a roubar também porque é uma personagem da minha cabeça. Seguem os bilhetes: escritor amador, professor amador, amante amador. Fico chateado mas logo sinto, ainda sonhando, que estou me sacaneando através de você. E quando eu começo a interpretar sonho dentro de sonho é porque vou acordar. Tento ficar tranqüilo enquanto é tempo, deixar que você atue em mim sem que eu me sabote. Me escreve, então, um último bilhete. Nele, leio centralizado: namorado. E, agora, era como se fosse você mesmo. Tive certeza de que era você que escolhia por mim o lindo título. E eu aceitava porque era mesmo lindo. Era a coisa mais linda de se escrever em um bilhete dobrado ao meio.

Mas, na verdade, penso fora do sonho. Você não escolheu por mim. Você era eu no meu sonho e eu quase fui enganado por mim. Você não escolheu nada. Nem o uísque, nem o risotto, nem as sobremesas, nem o café, nem o título, nem nada. Você simplesmente adivinhou em mim um namorado.

1 Comments:

Blogger Luisa Toledo said...

Que bonito seria se pudéssemos fazer de fato parte dos sonhos das pessoas, assim quando a pessoa sonhasse com você seria como um contrato para atuar no sonho dela só por uma noite. Ia adorar trabalhar assim, atuando nos sonhos...

5:12 PM  

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