13.1.05

Tchau (primeiro ler o texto anterior a este, logo abaixo...por Yuri)

Saiu da privada, chutou a tampinha da pasta pro meio do nada, e usou a toalha de chão para secar o rosto. Chorou. Brincou de dar nó na vizinha pensando na gravata pelada. Pegou na cara, sentiu um resto de barba de ontem, zoou o vestido, grunhiu um versejo, cantou Samba e Amor, se esqueceu do cinto, e foi a ter com o amigo no quarto. –que se ta fazendo de vestido? –Eu? –Vestido... – Ah sei, sei lá –Queria morrer vestido assim.
Machado se entendia na cama em um par ou dois de acordes sorridentes e tristes, e o amigo de sempre era um menino no banheiro. Sentou na varanda e começou a pensar sobre a total ausência de autocrítica dos escritores de hoje. Deu tempo pra pensar num beijo da menina linda e ouvir Chico como se não o fosse Chico, como se fosse aquele mendigo cantor do qual se foge nas noites da vila, menos de medo mais porque cheirava mal. E debochou de si mesmo como se lhe fosse íntimo. Não conseguia parar de pensar que desperdiçara tanta comida com os peixes de Aguiar.
Saiu, tralalá entrou no salão de festas e...é inútil pensar que é do vestido... encontrou Aguiar e foi ter com o álcool que dizia as coisas mais ternas e burras. – Que? –É ela – Que? – Foi ela Aguiar –Que? ...saudades da boemia...pouca gente entende a boemia, pouca gente é que nem ela. Já disse que é inútil pensar que é do vestido. –Eu te odeio! –Eu também. -Cala a boca e me beija!
Fez que bobagem, disse que queria voltar a rir com ela, não disse, pensou, disse outra coisa qualquer que não sei, um beijo é às vezes resposta; foi a ter com o poste. –Aguiar. – Quê? –Os carros! – Cala a boca Machado! – Acabei de assinar um contrato. – Então rasga! – Não quero, quero fingir que não sabia o que estava escrito...
Tico-tico rasgado o contrato sentiu saudades. Aguiar estava belo, longe de si, mas belo. Com a beleza que têm as coisas que não são eternas. Perguntou: -Por quê? –Não li o contrato. –Quê? –Contratos não são pra sempre...Uma foto dela tragando meus restos...Sorrindo.
Não é tão inútil assim pensar que é do vestido quando se quer ir daqui, ela era linda isto a tinha sempre. O menino ainda chutava tampinhas que não viriam a aparecer. Secou o rosto com a toalha de chão e teceu um canto – “... toma coragem... vem me dizer que me odeia... tem medo isto sim... tem medo de me odiar...” “Esse mundo é triste demais... se for pra voltar eu volto... que tristeza é uma coisa boa... que dá saudade...” –Quando? –Quando, eu disse?

Não sei que agora eu vou me embora pra Pasárgada

Lá o rei é que é meu amigo.

por Nícolas

4 Comments:

Blogger Maricota said...

Aê...voltou...muito bom!

Eu não chuto a tampa da pasta para debaixo da pia mas me leva pra Pasárgada porque eu também sou amiga do Rei, sabia?!

Beijos!

9:57 AM  
Blogger Molly said...

como é que eu faço pra ser amiga do rei, hein? todo mundo é, eu tb quero.

5:29 PM  
Blogger Nícolas Brandão Silva said...

...na,na,na....o rei é que é meu amigo!

12:31 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ei, psiu, vamos eskecer o rei? A gente fica amigo e naum conta nda pra ele, q tal?! Está linda a alusão a Manuel Bandeira, e talvez eu devesse ler Libertinagem novamente...quanto ao samba, será que é tão difícil amanhecer? Beijos, Nana.

10:09 AM  

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