16.3.05

Porta

Só existe essa porta agora por onde você vai entrar. E o tempo é esse ventinho fino que vaza pelos cantos da janela, e vem desenhar na minha nuca a ventania toda que brinca lá fora. E é como se agora, ao fechar os olhos, quase pudesse ver as saias e os penteados evadindo em rebuliço inútil, dos círculos invisíveis que o vento faz desenhar no ar e a quer trazer assim, despercebida, pra dentro da minha boca.

Mas só existe essa porta agora! E o vento sou eu desenhando na minha nuca, o hálito quente e doce com o qual sua boca me enrijece a pele e me arrepia os pelos. E logo faz fingir, assim, um frio ditoso, pra trazer a ventania louca pros meus braços seus. As saias e os penteados vêm dançar cá dentro, a dança desvairada dos nossos beijos vários. E minha espinha cega desconfia, sem bem entender, dos calafrios gostosos que por muito pouco não me desfazem o corpo quando seus seios resolvem descansar minhas costas.

Mas só existe você agora, e a porta sou eu te esperando inquieto. E o vento sou eu te trazendo de volta. E teus passos, metade dos meus e do meu caminho. E as saias volitantes, e os penteado descompostos, e o mundo todo sendo mundo. Não são mais que nós dois nos nossos beijos...

...Já quando a brisa me vier beijar a nuca, e a porta se mover bem lenta. Eu vou estar lhe esperando. Porque eu sou o mundo a trazendo de volta; seu hálito doce me invadindo a boca, e sua mão perpassando o linear da porta com os dedos. Porque eu já a vi chegar diversas vezes nesse último minuto. E nos demais não venho sido mais que eles próprios. Pois sei que ainda hei de a ver chegar neste sem-fim de minutos que se me seguem afoitos. E posso ver entre as frestas da janela, que não são senão as minhas quinas,

que sendo tudo que faço sentir.
Sou, muito além de tudo, a espera que faço de ti.

1 Comments:

Blogger Maricota said...

Nossa Nícolas, que lindo..

Ah, gostei do texto anterior também.

É...não sei muito bem o que falar, então...

Beijos

3:11 PM  

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