por isso eu fumo quando vem o desejo.
não porque ilumina, muito pelo contrário,
mas porque acalma a vontade idiota de querer resumir a existência num aforisma dourado.
essa mania de gastar metade da vida inventando a linda mensagem que um dia vai enfeitar minha lápide.
eu não quero que confundam
meu único verdadeiro vício por outro.
e só pra isso serviu o poema.
Meu vício é insistir na impossível missão de transcrever o espírito.
fica bom assim.
conciso, com cacoete de profundidade.
e cabe bem numa lápide!
um dia eu morro só de estar vivo
e é melhor eu ter dito tudo, mesmo que pra ninguém
a lei nesse mundo cão legitimou os nossos piores hábitos.
porra, os piores hábitos!
Permitam, ao menos, hipócritas plantonistas,
que eu não seja um maconheiro que escreve.
Bastou-me até hoje a dignidade de ser um poeta que fuma.