31.5.11

Tato

Ler a superfície da alma
como se fosse Braille.

26.5.11

Uma mansa ideia me acoberta.
Você: minha coberta.

16.5.11

Autoretrato

Eu sou uma ocasião de células que se uniram pra discutir minha vida. Eu morro quando o assunto acaba. E elas voltam pra casa pra tomar sopa com a família.

6.5.11

Zoologia

Só aqui o tempo urge.
No mato o tempo ruge
Ou muge
Dependendo da fauna

1.5.11

vício

por isso eu fumo quando vem o desejo.
não porque ilumina, muito pelo contrário,
mas porque acalma a vontade idiota de querer resumir a existência num aforisma dourado.
essa mania de gastar metade da vida inventando a linda mensagem que um dia vai enfeitar minha lápide.

eu não quero que confundam
meu único verdadeiro vício por outro.
e só pra isso serviu o poema.

Meu vício é insistir na impossível missão de transcrever o espírito.

fica bom assim.
conciso, com cacoete de profundidade.
e cabe bem numa lápide!

um dia eu morro só de estar vivo
e é melhor eu ter dito tudo, mesmo que pra ninguém

a lei nesse mundo cão legitimou os nossos piores hábitos.
porra, os piores hábitos!

Permitam, ao menos, hipócritas plantonistas,
que eu não seja um maconheiro que escreve.

Bastou-me até hoje a dignidade de ser um poeta que fuma.