25.1.05

Último mês de aula - o que eu fazia na aula da Cacilda

Venho sentido vontades estúpidas de morrer no meio de alguma aula.
nao é escapismo romântico...
...é mais uma curiosidade mórbida...

de ver se me notam

entre uma explicao e outra


..........


Pra isso comprei pacotes de roupas novas

Mas estas tem um fim um pouco diferente.

São mais pra ver se eu me noto de vez enquando

Ou algum espelho me chama pelo nome.


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Alias, fugir de espelhos é meu verdadeiro talento.
Eu até gosto deles! Eles é que me odeiam
Eu sempre prefiro me ver à luz amarela, ou à quase ausência de luz

Ou não me ver e imaginar...

como é bom poder imaginar.

...........


Mas as roupas me servem bem

Mesmo sem espelhos pra me ver.

Depressões são melhores bem vestidas que mal vestidas
E eu sou lindo me imaginando no escuro.
Shhhhhhhh...fica quieto....deixa a luz apagada...
E nao me venha com essa historia de correr, que o banco só fecha as 4
Sempre haverá tempo pra se imaginar bonito

E faltará sempre um minuto pro minuto final.


Velha Surda

- Eu te amo menina da pele de sol...
Disse o menino a saltitar por entre as frestas.

E resmungou a velha surda
- Ai,ai,ai, menino louco, vai se esborrachar de tanto amar assim!!!!!!!!

20.1.05

...

"Aquilo começava a lembrar uma convenção de alcoólatras anônimos que padecessem não de alcoolismo, mas do anonimato."

Chico Buarque - Budapeste

--> Sobre o Congresso Mundial dos Escritores Anônimos em Melbourne.

17.1.05

não há de se acabar assim

Conheço a ti menina e sei de um tanto!

Foi neste ontem que te amei de tudo...

Pois se agora, que se há feito o feito,

penso do amor que te fiz outrora...

... Digo que hoje, faço amar muito mais e melhor,
Que este amor de ontem que eu te dei...

13.1.05

Tchau (primeiro ler o texto anterior a este, logo abaixo...por Yuri)

Saiu da privada, chutou a tampinha da pasta pro meio do nada, e usou a toalha de chão para secar o rosto. Chorou. Brincou de dar nó na vizinha pensando na gravata pelada. Pegou na cara, sentiu um resto de barba de ontem, zoou o vestido, grunhiu um versejo, cantou Samba e Amor, se esqueceu do cinto, e foi a ter com o amigo no quarto. –que se ta fazendo de vestido? –Eu? –Vestido... – Ah sei, sei lá –Queria morrer vestido assim.
Machado se entendia na cama em um par ou dois de acordes sorridentes e tristes, e o amigo de sempre era um menino no banheiro. Sentou na varanda e começou a pensar sobre a total ausência de autocrítica dos escritores de hoje. Deu tempo pra pensar num beijo da menina linda e ouvir Chico como se não o fosse Chico, como se fosse aquele mendigo cantor do qual se foge nas noites da vila, menos de medo mais porque cheirava mal. E debochou de si mesmo como se lhe fosse íntimo. Não conseguia parar de pensar que desperdiçara tanta comida com os peixes de Aguiar.
Saiu, tralalá entrou no salão de festas e...é inútil pensar que é do vestido... encontrou Aguiar e foi ter com o álcool que dizia as coisas mais ternas e burras. – Que? –É ela – Que? – Foi ela Aguiar –Que? ...saudades da boemia...pouca gente entende a boemia, pouca gente é que nem ela. Já disse que é inútil pensar que é do vestido. –Eu te odeio! –Eu também. -Cala a boca e me beija!
Fez que bobagem, disse que queria voltar a rir com ela, não disse, pensou, disse outra coisa qualquer que não sei, um beijo é às vezes resposta; foi a ter com o poste. –Aguiar. – Quê? –Os carros! – Cala a boca Machado! – Acabei de assinar um contrato. – Então rasga! – Não quero, quero fingir que não sabia o que estava escrito...
Tico-tico rasgado o contrato sentiu saudades. Aguiar estava belo, longe de si, mas belo. Com a beleza que têm as coisas que não são eternas. Perguntou: -Por quê? –Não li o contrato. –Quê? –Contratos não são pra sempre...Uma foto dela tragando meus restos...Sorrindo.
Não é tão inútil assim pensar que é do vestido quando se quer ir daqui, ela era linda isto a tinha sempre. O menino ainda chutava tampinhas que não viriam a aparecer. Secou o rosto com a toalha de chão e teceu um canto – “... toma coragem... vem me dizer que me odeia... tem medo isto sim... tem medo de me odiar...” “Esse mundo é triste demais... se for pra voltar eu volto... que tristeza é uma coisa boa... que dá saudade...” –Quando? –Quando, eu disse?

Não sei que agora eu vou me embora pra Pasárgada

Lá o rei é que é meu amigo.

por Nícolas

Tchau

Desviou da privada, chutou a tampinha da pasta pra baixo da pia e usou a toalha de rosto pra secar o chão. Riu. Brincou de tentar dar nó na gravata, pensando na vizinha pelada. Ajeitou a camisa, zoou o cabelo e piscou pra sí mesmo fazendo cara de bobo. Catou o cinto cantarolando Gení e foi a ter com o amigo do quarto. -Sim? -Sei -Saca -Muito! -A dois -Eu só queria morrer..
Aguiar se entendia sentado na cama, e o amigo do quarto agora era o menino do banheiro. Sentou ao computador, fez-se de grande e escreveu da total ausência de auto-crítica que rolava nas festas. Deu tempo pra pensar em cerveja. Ouviu Strokes como quem goza a nona sinfonia e debochou Machado de Assis como se lhe fosse íntimo. Calou. Escreveu que estava com o queixo áspero da barba e lembrou de ter matado o peixe de Aguiar colocando comida demais.
Saiu, tralalá e entrou pelo salão da festa fingindo procurar o bar, mas ela estava linda de vestido longo. Deu pouco de atenção e depois foi passear com Aguiar, achou o álcool e uns segundos de "dã". Voltou. -A vanguarda? -Verdade. -O projeto... -Cadê? -Tá linda....
Pouca gente no mundo fala sem falar, e ela faz e ainda fala falando como todo mundo faz. Então se era pra falar falava: -Eu gosto dessa música -E eu gosto de você... E sorria.
Fez que bobagem, mas pediu o namoro com a voz doce, e beijo é resposta as vezes, ele sabe, mas pede confirmação com -hein?-. Na hora de sair, foi mijar num poste com Aguiar e acompanhou os carros passando na rua de noite. Oi pisca-pisca, tchau pisca-pisca. -Acabei de assinar um contrato- Mas não leu direitinho, contrato-sete-meses-e-tanto.
Tico-tico e rasgado o contrato sentiu saudades. Aguiar estava velho, mandado o cabelo longo aos feijões, e postos os óculos quadrados de estilista gay, perguntou: -Por quê? -Se soubesse -Acontece -Uma foto dela sorrindo!
E sabe-se lá do vestido ou destino deixado numa gaveta parda. A que estava linda continuava linda, e o menino ainda chutava a tampinha pra baixo da pia. Secou o chão com a toalha de rosto e escreveu um bilhete: -Me fui -Entende? -Esse mundo é meio doido -Você sabe -Se for pra voltar eu volto -Não sei quando -Nem sei se mesmo -Que agora vou-me embora pra Pasárgada.

Lá sou amigo do rei.

por Yuri