31.5.05

Consciência Negra

Ali por perto da Veterinária, da Eca, do antigo prédio da reitoria, e perto de outras coisas mais que estão sempre a fazer lado umas com outras na cidade universitária, uma placa inventou de dizer:

NÚCLEO DE CONSCIÊNCIA NEGRA -->

Cabeça a minha, que é máquina de lazer solitário, fez logo pintura de salão enorme. Gente a perder-se no pra lá de uma linha invisível, das que existem em tudo que se entende como infinitamente extenso.

Pela frente, no comando , um general garboso entoando:

- Vocês são negros!

Pois uns olhos tão baços, que quereriam contar histórias, agora indecisos entre a conformação e o orgulho. E umas vozes, rouquíssimas, repetindo, num quase mesmo soar, o que bem se fizera em acusação.

- Nós somos negros!

Duros e cansados de pisar o mesmo solo.
Inda crédulos de algo melhor que viver.

Como se fosse hoje a pele mais que um coágulo de uma condição.

13.5.05

letras

E então acordo e... aí que dia de merda! Vou encontrar um exército de lingüistas
de futuros professores e professoras que irão salvar o mundo da ignorância e mostrar que o conhecimento não está à venda e que há uma esperança dentro da falta de esperança e que estão dispostos a viver de livros de capa dura e folhas douradas de seda que irão comer quando bater aquela fome do fim da tarde que enganamos com salgados escrotos de microondas. E vão ensinar ao mundo o respeito às infinitas variações lingüísticas, "você não fala errado, não existe português errado", e vão lembrar que a nossa esperança é muito diferente não é daquela de quem já teve de fato um país justo, mas é de quem nunca teve nada que não fosse merda explícita ou implícita, de quem nunca teve um país que se pudesse dizer mais que as palmeiras e o calor das gentes e as artes, lindas artes, que bem ensaia um carnaval uma bossa e um samba e uma amazônia e ora, o pulmão do mundo são aquelas algas nem das grandes mas das miudinhas microicroicroicro....no meio do oceano atlânticoindicopacíficoglacialártico...e a amazônia é mais a farmácia e o zoológico do mundo e já paga em moeda verdeamarelaazul pra comprar um remedinho que saiu da nossa mata pra os ecumênicos político-econômicos que chegaram uma vez numa terra pensando em destino e ainda estão na mesma de doutrinar. E então lembro que já passei 10 minutos pensando em política-economica-gastronomica-linguística e que meu banho matinal está atrasado me esperando e que a água demora pra esquentar um pouco enquanto eu doou meu mijo pra privada e aí, a menina vai me dar a carona ali angélica com higienópolis e aí, que merda vou andar no frio, pra encontrar um exército de mais de 800 salvadores do mundo entre professores primários, mestres, doutores, linguístas, tradutores, publicitários, contistas, e...uma massa de imbecis que vão morrer nas bibliotecas porque não sabem comunicar um "a" sequer do contingente de "a's" dos que lêem grudados em outras letras. E a leitura mesmo é elitista, e se você fica quieto com cara de paca e óculos e veludo e rasgado e coturno e não diz porra nenhuma pra ninguém você é um imbecil daqueles que só abrem a boca pra dizer que o outro ta falando merda e pra provar que você sabe o que ele não sabe - mas que merda eu sou um idiota- ....15 minutos preciso lavar minha cara e lembro que hoje tem aula sobre o respeito às variações lingüísticas e eu me pergunto se respeitando as variações lingüísticas da empregada ela vai deixar de ser minha empregada pra ser minha amiga e só! e os lingüistas vão defender o povo que tenta explodir num grito cheio de variantes e cicatrizes dos tempos daqueles tempos que não queremos de volta porque a nossa esperança...e então lembro que letras é uma coisa tão bonita que está tão feia não sei por que, ou sei? não serve pra nada me disse um poli um dia, e não respondi porque de fato me punha em dúvida, podia ter fechado o punho e defendido, mas é inútil...acho que só serve pra tentar fazer alguma coisa humana no meio de todo esse maquinário...e então não é inútil...sei lá
só sei que já deram 20, e o banho demora pra esquentar...

e eu não vou à aula porque estou triste demais dentro das minhas calças.

e sou covarde porque acordei pra desistir.

12.5.05

quântica

Jair alargou um sorriso antes de abrir os olhos e havia um prazer novo em acordar naquela manhã. Era Neide que tinha o pau de Jair inteirando a boca e o engolia de uma voracidade matinal.

Nada de pão com manteiga: pica no café-da-manhã.

Jair, em semi-sono, remontou bem lento umas palavras de modo a parecer inteligente e assumir a posição de quem bem estava a fuder-lha boca. Mas as palavras decidiram-se sozinhas e o atropelaram em desajeito:

- Ora Neide! Deu de acordar-me pelo pau?

Neide fez que um engasgo com o pau a meia garganta, mas não ousou recuar; maneira alguma o faria! A chupada era insistente, fluída, e Jair já nem bem sabia se era por prazer que deixava Neide prosseguir ou se pelo bem do equilibrío universal. Temia que se interrompesse aquela chupada o pinto lhe fosse sumir ali mesmo entre os dentes amarelos, ou ainda que os átomos todos do universo se fossem negar a sustentar seus elos.

A mulher deu de dedilhar as bolas de Jair para após dar-lhes com a língua. E Jair, já sentia o coração pulsar-lhe no pau em euforia disritmada.

- Relaxa a glote mulher!

E forçou-lhe, pois, com três dedos repousados à nuca até os lábios conhecerem o talo. Jair sentiu a garganta de Neide sublinhar-lhe a cabeça do pau e logo pressentiu que iria ejacular ali mesmo, garganta abaixo, nutrir-lhe pela sonda grossa que lhe imperava as pernas cheias de pelos. Tremelicou indócil ao sentir o gozo se lhe formando e fez adiá-lo pensando na avó falecida untando-se de creme-10%-de-uréia.

Foi que o relógio apontou saudoso o horário comercial. O telefone, que assistia a tudo com uma tolerância incomum, decidiu, enfim, reclamar o fim daquela putaria descontrolada que tomava a cama por palco. A que Neide subiu os olhos pouco molhados, sofrendo antecipadamente os toques que seguiriam curso, irremediáveis, quanto o primário se apresentara.

Jair alongou as costelas enquanto Neide assegurava-lhe a pélvis com as mãos e, pelo fim das costelas, alongou bem o braço que se findara na mão deduzindo os dedos. Puxou o sem-fio para ao pé do ouvido a que um nasalizado quis ressoar:

-"Parabéns pra você...nessa data querida...muitas felic..."

Sentiu que voaria se Neide ali não o estivesse a privar, e não soube mais que dizer, feito um sorriso maior que o primeiro:

- Ah! Minha mãe!

E com ódio, Neide pensava se engolia ou se cuspia.

como disse yuri...e é, eu não sei linkar

1.5.05

ensaio

À sua porta

Ensaio palavras das que não direi

Entremeadas de sorrisos que não saberei fingir

amores que te darei jamais

olhares que gastarei no nada

brilhantes das promessas que cumprirei no nunca

Para só, enfim, dizer, temeroso do pouco ensaio
[no descompor de cem mil máscaras

Que ás vezes não me reconheço em mim

e que queria mesmo chorar, embora tão somente soluce