31.1.09

Marina diz:
seu aniversario ta chegando e o vencimento do aluguel aqui tb!

29.1.09

sinestesia

O que eu gosto é do cheiro de perfume doce que exala daquelas tetas cheirosas. E, quando elas vem apertar essas tetas contra a porta do carro, o cheiro entra com o discurso. Eu adoro quando as putas falam com a gente cheirando forte. Quanto mais forte e misturado, o cheiro, melhor. Gosto especialmente do fim do expediente quando umas tomaram umas cachaças já. Eu fico tão contaminado com aquele cheiro de mousse de pinga quando elas vem falando e fica um lance meio "então minha mãe (diz teta cheirosa do caralho) desceu a mão em mim quando descobriu que eu vestia as calcinhas dela (cheirosa) daí eu vi que eu ia pra rua mesmo e já me disseram por aí que minha mãe ta me procurando já tem 2 anos (ah! é que tua mãe não sabe farejar, porque tu é cheirosa pra cacete!)." Mas eu não digo essas coisas, eu faço elas só na minha cabeça, porque as putas no geral são muito ligadas à própria história e eu não gosto de ofender ninguém. Então eu escuto mesmo com os olhos lambendo aquelas tetas. "Eu não queria ter sido puta não. Eu sou do capão. E lá não tinha lá muito jeito pra mim. Eu sempre fui meio burrinha das idéia. Daí eu comecei a cobrar pro filho do dono da padaria me usar. Eu peguei vício. Achei que era um jeito de eu viver bem, e eu me sentia menos burra cobrando deles." Eu curto é sentir o cheiro e escutar as histórias. Eu inventei esse vício meu, pode anotar. Eu não gosto de me meter com puta na cama. Elas sabem o que fazem e fazem bem. Então eu fico só amigo. Não tem nada melhor do que ser amigo das putas. Elas são honestas. Uma ou outra vez me roubaram a carteira. Mas eu volto depois e elas se apresentam "roubei, fui eu. tava com fome e você tava todo babão pra cima das minhas tetas". Elas têm razão. Não tem mulher mais firmeza que puta. Elas só te fodem se você quiser. Se você pedir com os olhos embaçados de tesão. "eu tive dois namorado. o primeiro me tratava que nem uma princesa, mas me comia errado. o segundo me tratou que nem uma puta, e hoje eu agradeço a Deus por ele ter percebido. Não tem nada de homem certo pra ninguém, pode perguntar pras minhas amigas que elas acham igual a eu. Eu não quero nenhum pau-mole, essa veadagi de homem sensível. Homem sensível, assim, se é sensível mesmo, vai entender a puta que eu sou só de olhar os zóio." Eu sei do que ela ta falando. Eu sou um pau-mole. Eu faço parte dessa veadagi. Eu trato as mulheres muito bem e, até hoje, nenhuma merecia memo. Espalhadas pelos melhores bairros, todas as que eu já agradei mais do que devia. Mas uma puta. Não confundir com as putas enrustidas, parasitas dos altos empresários, que essas não valem mesmo nada. Mas uma puta. Uma puta admitida. Eu nunca soube nem saberia agradar. É por isso que você paga pra comer uma puta. É como se você assinasse um contrato em que está ciente de que é um pau-mole. Que no fundo ela não precisa de você, homem, mas do seu desespero. Só de você ter ido atrás dela já não diz muito sobre você. Diz muito sobre ela, isso certeza. Por isso que elas são tão cheirosas. Por isso que elas exageram. Porque é uma espécie de performance. As putas aprenderam a rir com a buceta. O espetáculo funciona da seguinte maneira: o mundo pára de girar todo dia às 18 horas. Daí vem ele, todo cansado de girar, segurando o terno, laceando a gravata, exibindo o suor pisado sobre a pança. Então eles, eles: o mundo, lembram que têm uma buceta em casa que não ri de década e correm aflitos aonde as bucetas aprenderam a rir. E sabe por que elas riem desdentadas? Porque elas sabem que os homens não têm escolha. Porque não há tristeza maior do que girar todo dia das 8 às 18. E, se não fossem as bucetas risonhas e perfumadas pelo mundo, ele parava de girar. Elas. As lobas e suas pombas. Elas são as donas do mundo. E são nossas amigas porque cobram bem menos do que merecem.

26.1.09

casa.

"hoje, o percurso até. antes, o caminho transposto. adiante está o futuro. um pouco mais à frente o esgotamento de todas as coisas. à esquerda a cozinha, pra quando quiser beber. no fim do corredor o banheiro pra quando quiser chorar. esta porta por onde entramos serve também de saída. e, quando voltar, a segunda porta é meu quarto, pra quando quiser se aliviar."



"hoje, o percurso até. antes, o caminho transposto. adiante está o futuro. um pouco mais à frente o esgotamento de todas as coisas. à esquerda a cozinha, pra quando quiser beber. no fim do corredor o banheiro pra quando quiser chorar. esta porta por onde entramos serve também de saída. e, quando voltar, a segunda porta é meu quarto, pra quando tiver desistido."

25.1.09

Idoso e sem braços, hindu captura pantera

O hindu Amala Senagh, um ancião de 71 anos, capturou um perigoso felino que rondava pelas ruas de terra de Jodhpur, cidade ao sul da Índia. O animal, uma pantera selvagem, havia matado coelhos e pequenos roedores, antes de ser limado pelo valente cidadão.O mais impressionante é que o hindu não possui braços devido a um defeito congênito, porém consegue realizar a maioria das atividades sem grandes dificuldades. "Ele fez tudo que quer, e assim o fará enquanto quiser", disse Dihla Lean, sua esposa.Como Senagh vive em voto de silêncio desde 1983, ninguém sabe como ele rendeu a fera. "Ela apareceu amarrada e cansada, enquanto Amala repousava ao lado dela, com alguns arranhões", relata Jamal Singh, chefe das forças florestais da região. "Ele é uma espécie de herói entre as crianças, que fingem não possuir braços para imitá-lo", completou.



michigansthumb (2007)



o nascimento de um novo mito é a morte de um antigo conceito. possuir braços se torna um excesso, um privilégio dispensável, e um novo tipo de herói é fecundado na fantasia dos futuros homens. um novo tipo de homem.



23.1.09

olha o pato!
que que tem? é só um pato.
é. e por isso eu disse: "olha o pato!", e nada mais.

20.1.09

eu vou ser tio!
e, se for tão legal quanto está sendo dizer isso, eu vou ser um tio muito feliz!

17.1.09

eufelísmo

mãe, atropelei um gato.
que cor que era?
não sei, eu saí correndo.
deixou o gato lá?
é.
coitado do gato. Será que não era o gato da nina?
o gato da nina é mudo, esse gritou quando eu bati nele.
ah tá! coitado do pobre!
eu tentei desviar, mas tem um monte de coluna na garagem.
Porra filho, foi na garagem?
é.
E você fugiu ainda! Tem certeza que não era o gato da nina?
Já disse que o bicho gritou pra cacete! O da nina nasceu mudo.
De quem diabo era esse gato?
Sei lá. To te contando pra caso comentem.
Claro que vão comentar, além do mais o prédio é cheio de câmera.
Verdade.
Acho melhor você ir resolver isso logo, filho.
Tá, acho que bateram na porta, vou ver.

nina!
Oi nícolas. Você ou sua mãe viram o Cisco?
Cisco é seu gato?
É, isso, você viu?
Nina...
Quê?
Acho que o Cisco não nasceu mudo não... Acho que ele só era meio calado.

16.1.09

encarando os fatos

"Barrack Obama diz que crise irá demorar a aliviar."



Pois é, seu moço. A pior coisa sobre a realidade é que ela real memo.

10.1.09

09/01/09 Sonho

Eu estava em um restaurante sozinho. E você estava sozinha também, em uma mesa a alguns metros oníricos de mim. Oníricos, vale dizer, porque distância e tempo não seguem uma lógica clara em sonho algum. Digo isso porque quando olhava para você, estávamos tão próximos que era como se eu respirasse integralmente o mesmo ar que você expelia. Já quando desviava o olhar, havia aproximadamente uns 6 metros oníricos entre nós.

Como num filme antigo, você estava linda e de vestido vermelho. Eu vestia um colete cinza, uma camisa branca e uma calça de linho preta. Atordoado com sua presença, chamava o garçom e oferecia a você uma bebida. Instantaneamente, ele lha servia em meu nome. Você sorria, erguia o copo agradecida e provava antes de devolvê-lo à mesa. Até aí tudo bem. Eu e você metidos num filme dos anos 50.

Mas, então, vejo você falando com o garçom e, dessa vez, ele me oferece uma bebida por sua conta. "Um uísque escocês", salienta o bom rapaz que mo serve. Acho aquilo muito estranho, afinal eu sou um personagem dos anos 50, isso não acontece nos anos 50, mas aceito, ergo o copo em gratidão, tomo um gole e tem o mesmo gosto do uísque que me acompanhou neste ano novo.

Decido tentar descobrir até onde vai aquilo. Seleciono meu prato preferido do cardápio e peço que o garçom lho sirva. Em 10 minutos oníricos você já degusta um prato que levaria 30 minutos reais para ser preparado. Muito satisfeita com a escolha, ordena um risotto de lagostim para meu proveito. Era, devo dizer, a melhor refeição que já havia feito, muito provavelmente também porque foi em um sonho.

Seguimos incansáveis. Pagando-nos um ao outro as bebidas e os pratos todos. Pedimos pequenas porções de diversas sobremesas. Lícores. Cigarros importados. Você me escolhe um café africano, eu decido por um chá indiano disfarçado de inglês. E, então, a coisa fica mágica. O rapaz me entrega um bilhete dobrado ao meio. Abro, e nele está escrito apenas: músico. Olho para o lado e vejo que meu instrumento está à vista sobre a cadeira ao lado. Acho graça, fico entusiasmado. Você não tem nada que denuncie sobre você, mas como o sonho é meu, e eu já sei o que você é, resolvo roubar. O garçom lhe entrega um bilhete escrito: atriz. Você fica impressionada, claro, você não sabe que eu to roubando.

Só que você começa a roubar também porque é uma personagem da minha cabeça. Seguem os bilhetes: escritor amador, professor amador, amante amador. Fico chateado mas logo sinto, ainda sonhando, que estou me sacaneando através de você. E quando eu começo a interpretar sonho dentro de sonho é porque vou acordar. Tento ficar tranqüilo enquanto é tempo, deixar que você atue em mim sem que eu me sabote. Me escreve, então, um último bilhete. Nele, leio centralizado: namorado. E, agora, era como se fosse você mesmo. Tive certeza de que era você que escolhia por mim o lindo título. E eu aceitava porque era mesmo lindo. Era a coisa mais linda de se escrever em um bilhete dobrado ao meio.

Mas, na verdade, penso fora do sonho. Você não escolheu por mim. Você era eu no meu sonho e eu quase fui enganado por mim. Você não escolheu nada. Nem o uísque, nem o risotto, nem as sobremesas, nem o café, nem o título, nem nada. Você simplesmente adivinhou em mim um namorado.

3.1.09

atrasado

Às vezes acontecia de eu passar toda uma tarde na casa do meu avô. Uma coisa que gostávamos de fazer era jogar dominó na mesa da cozinha. Eu sempre perdia. No começo, porque eu não sabia jogar de maneira inteligente, como ele fazia, mas depois, havendo entendido o sistema de contagem das peças, eu seguia perdendo. Quando penso nisso agora, vejo que eu não sabia competir com meu avô. Gostava mesmo de perder pra ele porque era seguro, porque era um jeito de admirá-lo. E toda vez que ele ganhava mantinha aquela postura serena enquanto olhava pra mim. Nunca comemorava, nunca me humilhava. Parecia reconhecer a vitória já antes, na companhia que oferecíamos um ao outro. Então, ao final da partida, recolocávamos nossas peças ao centro e misturávamos todas, passeando-as sobre a mesa, até que as minhas e as dele eram um só grupo extenso de peças sem dono. Lugar ideal de onde se iniciava cada partida.

Quando o dominó terminava, me oferecia algo de comer e já seguíamos para fuçar sua biblioteca. Eu gostava e, por isso, nunca reclamava de que ele escolhesse o que eu deveria ler. O que fazia, por sua vez, sempre cheio de cuidado. A verdade é que ele não tinha nenhum livro para um menino de 10 anos e, embora soubéssemos, isso nunca nos perturbou. Escolhia um para mim e um para ele próprio, no que seguíamos para a sala. Esta consistia em uma poltrona, onde meu avô se sentava, e um sofá, em que caberiam 3 estranhos sentados ou até 4 pessoas que se gostassem, nesse sofá eu me esticava. Havia também a mesa de centro, repleta de retratos de família dispostos pela minha avó, e uma televisão enorme do início dos anos 80, mas que só ligávamos caso fosse jogo do Palmeiras, para quem meu vô torcia, ou algum outro carioca, a que assistia pra matar as saudades do Rio.

A leitura costumava durar cerca de duas horas, mas esse tempo aumentava à medida em que eu crescia. Enquanto líamos não trocávamos palavra. Não comentávamos. Não penetrávamos a leitura um do outro. Dividíamos não a matéria em si, mas o instante. Com isso, compreendi, não tão rápido, a importância do silêncio, sobre o qual se deitaria ainda a minha música. Meu avô me ensinou a não falar sobre livros, tampouco sobre autores. Escolhia-os para mim, mas permitia que eu os lesse à minha maneira. Afinal, aos poucos, e antes sem se dar conta, eu passava a ler tudo que ele próprio já havia lido. Relia-os em seu lugar. Era o momento em que eu me sentia mais próximo dele. Quando eu decifrava nos livros seu silêncio a meu lado. Daí, ficou pra sempre o sentimento de que a leitura é um tipo de intimidade muito rara. Em que se está nú enquanto se procura despir o mundo também. Para mim, meu avô era um gênio. Mas prefiro não colorir nem explicar essa afirmação. Me encolho por detrás do "Para mim". Aprendi, a seu lado, que a veneração é também uma espécie de intranqüilidade. Ao menos juntos, nunca tivemos a tristeza de experimentá-la.

Experimentei, de outro lado, a melancolia que ele não me escondia. E, tão logo eu já pegasse gosto por ela, veio o Alzheimer pra nos separar. Eu tinha 15 anos e, de repente, me via obrigado a lembrar de tudo por nós dois. Por sorte, nessa época, nosso dominó já não era jogado. O que nos salvou de encarar a dor de maneira ainda mais cruel. Ainda assim, a doença parecia ter sido inventada por ele pra se aniquilar. Como teria feito com a bebida também, anteriormente, caso ela já não existisse.

Lembro de uma precisão que não costumo ter, quando já me obrigavam a ler livros no colégio, de estar lendo Dom Casmurro a seu lado, sem que, porém, lesse qualquer outro livro de volta. A doença já começava a lhe perturbar e ele me indagou sem curiosidade:

- Lendo o que?
- Dom casmurro, já leu?
- Li, mas tanto faz, porque é como se nunca tivesse lido.

Era difícil, na fase intermediária da doença, saber quando era ela que o corroía e quando era ele que a usava pra se maltratar. Nesse episódio mesmo, devido ao tom, que me pareceu irônico em um primeiro momento e simplesmente constatativo em um segundo, não saberia dizer se de fato ele havia esquecido do conteúdo do livro, ou se se forçava a esquecer, só pra dar contorno e dimensão ao mal que o mataria depois de matar suas memórias. Alzheimer era uma metáfora. Uma arma com a qual meu avô se extinguia. Um ser que, por ter sentido demais a dor de exisitr, preferira morrer vazio.

Quando o esquecimento começou a dominá-lo e as indagações se repetiam como se nunca respondidas, comecei a me afastar. Sabia que dali em diante eu ia ter que começar a mentir. Que era impossível ser honesto sem testemunha. Ainda mais porque a postura familiar adotada, penso que naturalmente, era a de dissimular a verdade na esperança de que ele não a percebesse. Formalmente, acho que ele nunca soube que tinha Alzheimer, mas intimamente compreendia. E, por isso também, às vezes parecia um processo de autoabsorção. Um findar-se infinitamente triste. Vivia angustiado a dizer que havia algo de errado consigo. Não queria sair de casa. Não queria estar em nenhuma parte. Tinha medo de esquecer-se completamente e, por isso, apenas o que lhe era extremamente familiar oferecia o mínimo de conforto.

Quase um ano antes dele morrer, já não era meu vô quem eu via. Seus olhos eram um mar sem fundo. Um oculto delírio úmido, cheio de ausência. Nos últimos 5 meses, lembrava de mim algumas vezes, noutras não: precisávamos ser apresentados. Mas parecia sempre uma notícia boa saber que eu era um neto muito seu. Em geral, sorria em espanto e segurava minha mão com grande apreciação. Às vezes, fingia já saber quem eu era, como eu fingia àquela altura conhecê-lo também. Preferia entender naquilo nossa última cumplicidade. Em nome dos velhos tempos, da velha parceria. A solidão, o silêncio, a dúvida: O filho da mãe me ensinara a ser sozinho caso o destino fosse. Tinha raiva de mim e da doença maldita. Não havia prova maior de que Deus não existia. Mas meu avô nunca havia conversado sobre Deus comigo. Então eu fiquei com mais raiva ainda. Porque ele também deixou que eu pensasse sobre Deus sozinho. Talvez para que eu percebesse que pensar sobre Deus é só mais um jeito de estar sozinho.

Quando morreu, foi como a morte é. Impetuosa e necessária. Deixei que morresse sem nunca haver lhe mostrado um texto meu. Nunca tive coragem. Descobríramos cedo (ele tão antes de mim) que os escritores são grandes mentirosos. Embora durante nossas tardes mergulhássemos satisfeitos nas mentiras trepensadas, preferíamos a verdade sobre cada um. Nela se baseava o melhor proveito da mentira literária. Dividíamos, afinal, o gosto em comum de considerar a arte a maneira mais honesta de se mentir. E também a mais bela possível.


....



Dói, meu vô, já quase 6 anos após sua morte, ter conseguido escrever o único texto que faria sentido mostrar.

1.1.09

ilha

Ficou prometido para o ano seguinte aquilo que já nascia. E assim fica fácil. Prometer o que já se pôs a cumprir independente.

Um dia, ficou dito:
"me levou pra passear, fez as minhas vontades."

E daqui, quando fecho os olhos, há outro corpo no meu corpo quando tomo banho.