19.9.04

Mau-Humor

- Tio, tio...você acredita em Deus?

- Se eu acredito que ele existe, ou se eu acredito nas mentiras que ele fala?

(silêncio perpétuo)

- hum....se ele existe!

- Se eu dissesse pra você que ele não existe seria por pura rebeldia. Pois Ele sempre será aquele menino popular que nunca olhou pra mim, e eu, o menino estranho, com a lancheira de menina.
Se ante uma profunda solidão você resolver trocar sua lancheira de menina por uma do Power Rangers quererá dizer que você acredita em Deus, mas que é volúvel e que aceitou trocar sua lancheira (que você gostava!) para ser popular . Se você for fiel a sua lancheira de menina você é igualmente "autêntico" e agnóstico, mas, por outro lado, como tudo tem seu preço, você ficará sempre sozinho nos recreios...

- (...) ???

- ...existe...

12.9.04

Sartre vai ao McDonnald's

- Oh, sensação perversa e desmedida que me irrompe ventre acima. Maldita sejas tu, oh vastidão do nada que me invade! A celebrar vazios, os amargurados residentes das profundezas insossas de meu ser! Sinfonia ecoante das masmorras escavadas em meu âmago! Angústias enclavinhadas, de ausências a quê digerir! Espaço circunscrito sem matéria a confundir-me as idéias; e que, de certo, não me há de permitir pensar! Dar-me-ás suponho, se sustentas piedade em teu ser bondoso e altruísta, alguns de teus suculentos suprimentos alimentícios, que trajares em tão belos e luminescentes retratos colorados, ulteriores a meus domínios temporais e de sapiência.

Ai de mim!!!!!

Ai de mim!!!!!

Vê-me senhor, por obséquio, um número dois! Elevai-o sim, no que diz respeito ao tamanho das batatas e do refresco! Incrementa-lo-ás de creme gelado, coberto por néctares de cacau ou de açúcar queimado, e assim, há de me ver curado, da dor pungente e quase inextirpável que é ter fome, e ser chato pra caralho!

7.9.04

Vibrissas

Ajeitou o paletó cinza-esverdeado cor de mofo. E sentiu-se bem como nunca dantes. Olhando-se no espelho bem de longe, viu sumir algumas rugas e alguns anos. Penteou os dois longos fios de cabelo que lhe desciam à testa e quis fazer cara de bom, mas não conseguiu. Saiu com as vibrissas a brincar na escuridão como quem sai para ganhar a noite. E já a tinha desenhando o vento nas narinas.

Era feio de virar o Tempo. Mas era Bom e se sentia assim.

Desceu, trançando as ruas entre as pernas. As mãos folgadas descansando os bolsos. Bebendo goles enormes de admiração lunar. Ébrio andante e feliz. Saltitando entre as estrelas.
Riu-se por entre as moças da rua de baixo que exibiam pernas e coisas outras, e achou graça maior em ser bonito porque se quer.

Encontrou o morro que queria, e pôs-se a cantarolar coisa bem baixa. Intocável, fez-se de Deus por doutrinar os peixes...E era festa boa este silêncio. Disse outras coisas tolas e sinceras. E se jogou de roupa e tudo. Voou um pouco com as vibrissas no ar. E não quis cair. O mundo perdeu centro, com os peixes e as estrelas se indagando pra que direção iria o estranho homem. Foi sumindo devagar, e as moças cobraram preço alto pela noite.

De manhãzinha o sol nasceu morno pela encosta, e o mar abriu os olhos de ressaca.

Não se via mais o moço, nem na água e nem no ar.

Sabe-se apenas que foi no morro, de onde quis voar, em que nasceu seu blog...